segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Apenas viver . . .

            Há momentos tão impressionantemente especiais que não existem palavras capazes de descrever a ínfima parte dessa grandiosidade. Acontecimentos que geram uma verdadeira mistura de sentimentos e sensações desafiando as mais sólidas convicções. É sempre desafiador vivenciar situações novas, sobretudo para alguém que age com a razão, colocando tudo em uma balança e decidindo matematicamente.
           O que fazer, então, quando algo ou alguém “quebra a balança”? Podem vir muitas respostas à mente ou não vir resposta. A “insegurança” é tão grande que tudo parece não fazer sentido. Onde estão o chão seguro pelo qual caminhava e a estrada segura que conduziria a um futuro certo?
          A verdade é que não existem mais o chão e a estrada. Preocupados – ao extremo – em não ter as melhores e mais certas respostas, deixamos de viver o presente, de vivenciar a situação em sua integralidade e reconhecer a verdade do momento. Portanto, vivamos com brilho nos olhos e de coração e mente abertos, sejamos nós! Busquemos e aceitemos a felicidade e suas múltiplas faces. A vida é muito maior que um mero conjunto de regras e viver é – sem dúvida – a maior das aventuras.

Quiseram matar um poeta

Tiraram as suas roupas,
deixaram os adjetivos.
Eles lhe emprestam sua vibração,
seu apoio e força.

Sacrificaram seus sonhos,
sobraram os advérbios,
que permitem suas bem
fundamentadas hipérboles.

Fecharam portas e janelas.
E os verbos? Ah! Os verbos . . .
Os verbos ficaram,
sem verbos não há vida.

Acabaram com tudo,
pisaram em suas ilusões.
Ainda há lápis e papel.
Poeta! Tu vives.

Originalmente publicado em "uma ideia minha"

Seco & Vazio


Não há lágrimas nem saliva.
Sem sentimentos ou dores,
cabeça limpa,
sem pensamentos.

Pouca inspiração, minúscula emoção.
Sem ódio, sem amor.
Esquisita e cômica situação:
não há sangue nas veias.


Originalmente publicado em "uma ideia minha"

Sentido de uma vida

                      Ele sempre acordava pela manhã pouco disposto para enfrentar o dia. Ficava por volta de dez minutos mexendo na cama, fazendo um enorme esforço para despertar. Quando finalmente encontrava as migalhas de ânimo necessárias para levantar, arrastava-se até o banheiro. A imagem refletida no espelho causava espanto, medo, dor – uma mistura de sentimentos e sensações inexplicável, algo distante do plano lógico. A água fria do banho, mesmo em manhãs de inverno, era imprescindível para despertar o corpo.                              Eram momentos terríveis, a certeza de que deveria sair de casa e ir trabalhar o atormentava. Sentia uma imensa vontade – uma necessidade – de ficar em seu quarto com as densas cortinas fechadas, sem luz, embaixo dos cobertores, sozinho.
                      Nada o incomodava tanto quanto o sol e os jardins floridos do caminho. Os óculos escuros ajudavam na difícil trajetória de dois quilômetros entre a casa e o trabalho. Além de não permitirem a ação impactante da claridade, funcionavam como um disfarce: ele poderia fingir não ver as pessoas e não ter que cumprimentá-las. No trabalho, as coisas eram muito mais dolorosas. Vinte por cento dos funcionários do setor tinham pouca ou nenhuma experiência, uma vez que eram recém-contratados. A penosa função dele era treinar essas pessoas, cheias de ânimo e perguntas, forçando-o a socializar. O sorriso cheio de dentes de alguns era um martírio. Vinha-lhe uma pergunta à cabeça: “Por que as pessoas são tão felizes?”
                      A manhã de trabalho arrastava-se, a hora do almoço era um alívio, ficaria mais de uma hora distante daqueles muito animados novos colegas. Só não era melhor, porque o cheiro de feijão bem temperado e a carne vermelha assada não tinham significado. Um ovo cozido, duas colheres de arroz branco e repolho cru picado eram suficientes. Após o almoço, uma xícara de café e três cigarros o animavam, eram o sinal de que o dia estava com as horas contadas. A tarde era menos desagradável, ele ficava só numa sala ampla, com pouca ventilação. Poderia, em meio a tantos papéis e carimbos, encontrar-se. Ficar só: era disso que ele precisava. Finalmente, dezoito horas. Hora de voltar para casa. Alguns outros tantos iriam se esbaldar no bar ao lado do trabalho. Ele não, seu único pensamento era a cama, o travesseiro e os velhos sonhos afogados em lágrimas.



Eterna Confusão

Palavras vãs em doces expressões,
passos largos em direção ao nada.
Corações fortes quebrados de paixão.
Mentiras verdadeiras eivadas de razão.

Somos assim: o real paradoxo,
o último e o primeiro,
a dor e a alegria.
Somos o mundo desconexo.


Originalmente publicado em "uma ideia minha"

Um Coração

Coração bandido e vagabundo,
impressiona-se facilmente.
Não entende a dinâmica
do mundo e das paixões.

Vive alegremente
como uma criança.
À procura de emoções,
cai - cansado - no chão.

Desesperado e sujo de lama,
não ouve os conselhos da mente.
Só quer sentir calor e
bater forte, descompassado.

Iludido, acredita.
Ama muito, confia.
Sente, sorri e chora,
grita, entrega-se.

Não importa como,
não há porquês.
Para se sentir vivo,
somente algo: arritmia.

Onde ele está?

Muitas vezes dito;
poucas, sentido.
Uma pequena palavra:
somente quatro letras.

Um milhão de significados.
É possível fazê-lo?
Onde ele está?
Quem o criou?

São tantos questionamentos,
são muitas indagações.
Ninguém tem a resposta.
Por quê?


Originalmente publicado em "uma ideia minha"

Pobre dos meus versos

O vento que traz a alegria,
pode levar a saudade.
A paixão que leva à loucura,
pode curar a insanidade.

Versos pobres de rimas fáceis,
às vezes, não seduzem.
Poesia amarrada a regras
é coisa de fraco.

Não quero convencer.
Só quero cantar o meu amor,
a minha alma, os meus delírios.

Sou órfão de dor,
se vivo o horror.
Um dia, estarei livre.

Publicado originalmente em "uma ideia minha".

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Mundo Meu

Prefiro o mundo dos sonhos,
das viagens ilusórias,
dos paraísos artificiais.
O mundo das verdades inventadas.


Incomoda-me, no entanto, as mentiras,
as perversidades, os atropelos,
a falta de amor
e as pessoas com máscaras.


Gosto de correr no campo,
de tomar banho de chuva,
de nadar no mar gelado.


Preciso do perfume das flores,
de grandes amores
e de pessoas descomplicadas.

Originalmente publicado em umaideiaminha.blogspot.com

Banco

Cifras, números e notas.
Um mundo cruel, violento,
implacável.


Pessoas mecanizadas,
corações gelados,
vidas engessadas.


Poucos apertos de mão.
Sorrisos amarelados.
Gente que não é gente.
Cansaço.

Originalmente publicado em umaideiaminha.blogspot.com

Uma doce canção de amor

Quero sentir a brisa do mar,
quero ser o vento frio do sul.
Caso haja paixão em teu olhar,
Não se engane, eu sei: é covardia.

Entenda da forma que puderes,
da forma que a tua inteligência permitir.
Plantaste falsas sementes de flores,
colherás ardor, furor e apatia.

Hei de amar cada manhã de sol em cada dia.
Hei de cantar a mais bela canção de agonia.
Hei de ver-te na perdição das tristes noites de alegria
Hei de vencer todas as batalhas contra mim erguidas.


Originalmente publicado em umaideiaminha.blogspot.com

Distância

Em meio a tantos quentes corações;
o meu, ainda frio, dorme.
Iludido por doces palavras,
confiante, espera.


A distância é física,
quilômetros nos separam.
O tempo imobiliza, congela,
massacra.


Longa espera é esta.
Dor que me faz temer.
Sensação desconfortante,
tamanha falta de prazer.


Originalmente publicado em umaideiaminha.blogspot.com